Cerrado: conhecer para conservar!
Foto: Horizontes amplos da Estação Ecológica da Serra Geral do Tocantins, vistos a partir do mirante do PE Jalapão
Nunca aprendi tanto sobre Cerrado quanto nos doze dias da viagem que fiz pelo Jalapão e Oeste da Bahia com o biólogo Cristiano Nogueira, para fazer as fotografias publicadas na matéria "Cerrado, um drama em silêncio", na edição 190 de National Geographic Brasil - nas bancas. Estou feliz que ele tenha encontrado um tempo na sua atribulada rotina de viagens para compartilhar com os leitores desse blog os seus conhecimentos sobre o Cerrado. Boa leitura!
Foto: Rio Novo, Jalapão
Texto Cristiano Nogueira*
Fotos: Luciano Candisani
Proteger o Cerrado é um dos maiores desafios globais para a ciência da biologia da conservação. O Cerrado representa ao mesmo tempo a savana mais rica em espécies e uma das maiores fronteiras de desenvolvimento em todo o mundo. Com o crescimento do agronegócio, a renda média da população no centro-oeste tornou-se recentemente a maior no país. O que pouca gente sabe é que este crescimento tem um preço. Difícil de medir em termos absolutos, pois a economia ainda não entende corretamente custos de oportunidade e o valor subjetivo dos capitais naturais.
Foto: Arara vermelha no planalto da Bodoquena
Uma das paisagens naturais mais antigas do continente sul-americano, as savanas do Cerrado abrigam uma biota bastante diversificada, fruto de um processo de interação entre as mudanças na paisagem e a evolução das linhagens biológicas. Como resultado, os padrões de diversidade e distribuição da fauna e flora do Cerrado são também bastante complexos, e precisam ser bem representados em estratégias de conservação.
Foto: Veado campeiro, planalto da Bodoquena
Embora a singularidade florística e a diversidade das paisagens naturais do Cerrado já tivessem sido reconhecidas desde os tempos dos naturalistas Martius e Saint-Hilaire, ainda no século XIX, muito do que se sabe sobre biodiversidade no Cerrado ainda vem sendo descoberto. Estudos recentes não param de revelar a grande riqueza e a diversidade da biota do Cerrado. O último inventário da Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins, a segunda maior área protegida em todo o Cerrado, revelou que a área abriga um grande conjunto de espécies de vertebrados ainda não descritos pela ciência (Veja aqui, as fotos de algumas dessas espécies).
Foto: Macaco-prego, sul do Piauí
Este conjunto de novidades científicas foi descoberto no interior de uma área protegida. Mas o que dizer dos componentes biológicos na maior parcela do Cerrado, sujeitos à perda irreversível de hábitats? Como as áreas de proteção integral no Cerrado não chegam a 3% da área total da região, e mais de 70% da área original de Cerrado já foi modificada, muitas espécies podem estar sob pressão intensa da perda de hábitat mesmo antes de serem conhecidas em termos científicos básicos.
Foto: Vereda no Jalapão
Perder espécies mesmo antes de conhecer seus atributos e potencialidades gera um grave problema: a redução da quantidade de oportunidades futuras para a sociedade, pois possíveis novas descobertas medicinais, tecnológicas ou de uso direto estão sendo perdidas cada vez que uma espécie ou linhagem biológica desaparece.
Foto: Currupião em Ipê, planalto da Bodoquena
O Cerrado foi apontado no início do século 21 como uma das regiões prioritárias para a conservação da biodiversidade em todo o planeta. No entanto, esse status ainda não parece ser suficiente, tendo em vista os tímidos avanços em conservação nos últimos três anos.
Foto: Lobo Guará, Bodoquena
Temos apenas mais duas ou três décadas para optar pela destruição ou conservação de um patrimônio biológico único, que se moldou em milhões de anos. Antes que seja tarde, é preciso revelar ao Brasil e ao mundo o que se está perdendo com a devastação do Cerrado, estimulando estudos científicos sobre a diversidade e usando tais estudos como base para proteger uma parcela significativa desta que é a mais rica e ameaçada savana do planeta.
Foto: Lobinho, Bodoquena
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